domingo, 9 de agosto de 2009

Ampulheta.

Amigos, tento, aos poucos, voltar ao mundo dos escrivinhadores. A idéia é fazer desse blog uma prateleira de novas impressões jornalísticas. Mas muito terá de textos pessoais também.
Enquanto preparo novidades e tento entrar no pique de atualizar todos os dias, aproveito para cascavilhar os antigos (e já mofados) posts dos finados blogs.

=)


Apaixonada vida
*Publicado no Segredos de Liquidificador em 05/01/2006.

E ela foi caminhando assim, sem saber aonde ir. Dobrou esquinas, subiu calçadas, desceu batentes. Desviando das chuvas e dos hidrantes, lançou sortes e laçou desafios.
As ruas por onde andou eram de barro, de asfalto. Tropeçou por vezes num paralelepído solto ao atravessar becos e travessas.Cantou quando o sol esquentava seus cabelos para distrair a solidão. Encontrou conhecidos, reviu amigos, cultivou contatos.Beijou algumas bocas nos intervalos de tudo, sentada nos bancos das praças que conheceu. Jogou-se em alguns corpos nos cantos de parede, para ter algum prazer.
Parou em frente a vitrines, assistiu televisão de cachorro, e quando suas pernas dóiam demais tomou ônibus, pegou carona, foi de táxi... Nos carrinhos, nos cruzamentos, em frente às escolas, comeu churros, chupou picolés. Ganhou alguns algodões-doces, engasgou com pipoca, melou-se de maionese na correria dos cachorros-quentes do meio-dia.
Se perguntavam aonde ia, ela respondia que ao final. Se indagavam onde ficava, ela dizia que no mesmo lugar onde a estrada cansasse de continuar. E completava, gritando de longe, meio de costas, sorrindo:
"Só vou saber quando chegar lá. Enquanto isso, caminho sem pressa e sem destino, colhendo frutos e plantando sementes, pois que é essa minha vida. Sem mapas e sem guias, só o Sol e as estrelas."

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